27 abril 2008

To Kill a Dead Man


Não se trata de segredo nenhum que uma das bandas preferidas dos membros deste blog é sem dúvida os Portishead.

Estes, influenciados por filmes de espionagem dos anos 60 e por bandas sonoras compostas por Lalo Schifrin e Jonh Barry, criaram uma curta-metragem no inicio da sua carreira a que deram o nome de: "To Kill a Dead Man". Foi filmado a Preto e Branco em 1994, e trata-se de um filme de espionagem de 10 minutos.

Protagonizado pelos próprios Portishead (Beth Gibbons, Geoff Barrow e Adrian Utley), o filme fala-nos de um assassino contratado (Barrow), que no topo de um edifício prepara o assassínio de um dignitário (Utley), e com a sua mulher (Gibbons) a assistir a tudo. Histérica é internada num hospício, onde é obrigada a assistir vezes sem conta ao assassínio do seu marido. O filme leva uma reviravolta estonteante onde no fim a pergunta que subsiste é: quem afinal é a vitima?

Como nota final, o filme teve a realização a cargo de Alexander Hemming, e mais tarde serviu para o video-clip de "Sour Times" do álbum "Dummy".

Com o lançamento oficial para amanhã, dia 28 de Abril, do terceiro álbum de originais da banda, "Third", aqui fica o filme "To Kill a Dead Man" e o video-clip "Sour Times". Espero que gostem.

A gente vê-se!



22 abril 2008

A Malta da Obra


Sim, somos uns "trolhas" limpinhos.
Sim, a Patricia e o Zé são engenheiros.
Não, eu não sou engenheira, mas qq dia tiro o curso na Independente (se a voltarem a abrir) e já posso ser 1.ª Ministra. E qd isso acontecer acabo com o futebol, e dou todo o dinheiro envolvido no futebol para pesquisa de doenças estranhas. Eu sou a camarawoman.
Sim, qd mostrei esta foto ao Mário ele perguntou se andavamos sempre assim na Obra.
Riu-se e não se admirou com o facto das pessoas não abrandarem nas poças de água qd nos vêem.
O Pedro achou o mesmo, dizendo ele próprio que se nos visse assim na rua, passaria o mais depressa possivel por uma poça de água.
A minha mãe riu-se e achou o mesmo.
FIQUEM SABENDO QUE VOCÊS PAGARÃO BILHETE MAIS CARO SEMPRE QUE ANDAREM DE METRO!!!! (opinião da Patti!)
Apesar de trabalharmos na Obra e de a visitarmos todas as 4.ªs feiras, sinto que temos um enorme previlégio por pertencer a uma obra com esta envergadura, que vai realmente, facilitar a vida dos portugueses! Gostava de publicar fotos da obra, mas se o Metro as encontrasse...era o fim. Só quem tem o previlégio de passar dentro dos tuneis e de ver todo o trabalho envolvido sabe do que eu estou a falar! Adorava que esta obra durasse para sempre. Adoro estar aqui...todos os dias aprendo imenso! Até já aprendi a ver onde existem não-conformidades!!
Quanto à minha malta, não podia andar melhor acompanhada, apesar de todo o barulho dentro dos tuneis, a Patti consegue sempre explicar-me todos os procedimentos, como se eu fosse uma menina de 3 anos, e o Zé no seu jeito único distorce um bocado as coisas, para que possamos desconstrair, afinal andar por ali é puxado! Ele acha que a Patrícia qd desaparece é porque foi comida por um tubarão! LOLOLOL! Eu tento manter-me sempre junto deles!
Gosto imenso do meu Chefe...e ele enche-me de trabalho e eu sinto-me muito motivada pela confiança que as pessoas cada vez mais depositam em mim. Mas por vezes, nem tudo é rosas.
Tudo isto para ficarem com um "cheirinho" do que se faz enquanto se trabalha!
Obrigada por tudo!! Mais do que colegas vocês são AMIGOS, e isso não tem preço! Obrigada por terem entrado na minha vida! Que as nossas excursões continuem por muitas e muitas 4.ªs feiras, assim como os nossos almoços no PMOII! Vocês são excelentes!!
Quanto aos outros, a gente vê-se na Expo!
Amiga, volta depressa, que isto sem ti é de morrer...e eu sei que é amanhã, mas fica aqui já votos de felicidades!

16 abril 2008

PRECISO DE ALGUÉM

Que me olhe nos olhos quando falo.
Que ouça as minhas tristezas e neuroses com paciência.
Preciso de alguém, que venha brigar ao meu lado sem precisar ser convocado; alguém Amigo o suficiente para dizer-me as verdades que não quero ouvir, mesmo sabendo que posso odia-lo por isso.
Neste mundo de cépticos, preciso de alguém que creia, nesta coisa misteriosa, desacreditada, quase impossível de encontrar: A Amizade.
Que teime em ser leal, simples e justo, que não vá embora se algum dia eu perder o meu ouro e não for mais a sensação da festa.
Preciso de um Amigo que receba com gratidão o meu auxílio, a minha mão estendida.
Mesmo que isto seja pouco para as suas necessidades.
Preciso de um Amigo que também seja companheiro, nas farras e pescarias, nas guerras e alegrias, e que no meio da tempestade, grite em coro comigo:
"Nós ainda vamos rir muito disso tudo"
Não pude escolher aqueles que me trouxeram ao mundo, mas posso escolher o meu Amigo.
E nessa busca empenho a minha própria alma, pois com uma Amizade Verdadeira, a vida se torna mais simples, mais rica e mais bela...

Charles Chaplin
(1889-1977)

Um dia sem sorrir é um dia perdido

A frase título deste post obviamente que não é minha, embora acredite nela à muito, muito tempo. A frase é desse grande génio que hoje quero prestar a minha homenagem. Comemora-se hoje os 119 anos do seu nascimento (nasceu em Londres a 16 de Abril de 1889). Estamos a falar de quem eu considero o maior génio do cinema, Charles Chaplin.

Era eu ainda muito pequeno quando comecei a ver as suas curtas-metragens na televisão, e fascinava-me aquele vagabundo de chapéu de coco preto, smoking a "pedir reforma" preto, bengala e andar com os pés às 10 para as 2 (LOL), embora tivesse a dignidade e cavalheirismo de um "Sir". Na altura gostava dos seus filmes porque esse andar desajeitado e as suas trapalhadas me faziam rir, não alcançando minimamente o alcance que esses filmes tinham. Foi já com os meus 15/16 anos que comecei a ver as suas longas-metragens com outros olhos, e ainda mais ganhei fascínio a esse actor, produtor, realizador, autor, argumentista, empresário e musico. Um verdadeiro Homem dos 7 ofícios.

Os Filmes "O Míudo", "Luzes da Ribalta", "Tempos Modernos", "O Grande Ditador", "O circo", "Luzes da Cidade", "A Quimera do Ouro" foram classificados pela industria do cinema como estando dentro dos melhores 100 filmes da historia do cinema. Só mesmo um génio conseguiria que 7 filmes entrassem nesta tabela consagrada. Critico e perspicaz na mensagem dos seus filmes, Chaplin critica, com uma visão muito socialista e humana, a quebra de valores e o caminho da decadência que a revolução industrial e o liberalismo puro e duro trouxeram na evolução social. Faz uma justa e linda ode ao Amor, como é exemplo disso o filme "Luzes da Cidade" (a mensagem é - o Amor é cego!), e antes de tudo e todos desmascara Hitler em "O Grande Ditador". Ainda com respeito a este filme que mencionei, Chaplin quando descobriu o horror do Holocausto Nazi afirmou que se soubesse desta tragédia antes não teria brincado como brincou com este tema (como nota há que referir que o filme é de 1940 e o holocausto Nazi foi tornado publico em 1945).

Esta visão perspicaz da sociedade e a sua crítica mordaz valeu com que sofresse variadas perseguições no seu país natal, bem como no seu país de adopção, o que fez com que escolhesse a Suíça como seu último refugio nos seus últimos 25 anos. Por incrível que pareça, dado à sua genialidade e versatilidade, a perseguição a este artista foi tanta que a academia de Hollywood, apesar de inúmeras nomeações, só lhe atribuiu o Oscar de carreira e já estávamos em 1972. Foi uma das maiores ovações de sempre, com toda a gente de pé a aplaudir por mais de 5 minutos. Não está ao alcance de qualquer um.

A 25 de Dezembro de 1977, o mundo viria a despedir-se desde "Sir" (sim, a rainha concedeu-lhe este título honorifico em 1975). Curioso. Morreu no dia do ano que mais detestava.

Assim, e para finalizar, tenho a dizer que é uma das figuras da humanidade que mais admiro e prezo, e orgulho-me de poder ter partilhado a minha presença neste planeta com esta alma GIGANTE durante 10 meses de vida. Como despedida deixo-vos algumas frases marcantes deste Senhor, bem como um vídeo de homenagem que descobri no famoso Youtube, e em que a musica de fundo foi escrita e composta também por Chaplin.

"
A humanidade não se divide em heróis e tiranos. As suas paixões, boas e más, foram-lhe dadas pela sociedade, não pela natureza."

"
Se tivesse acreditado na minha brincadeira de dizer verdades teria ouvido verdades que teimo em dizer brincando, falei muitas vezes como um palhaço mas jamais duvidei da sinceridade da platéia que sorria."

"
O amor perfeito é a mais bela das frustrações, pois está acima do que se pode exprimir."

"Durante a nossa vida:
Conhecemos pessoas que vem e que ficam,
Outras que, vem e passam.
Existem aquelas que,
Vem, ficam e depois de algum tempo se vão.
Mas existem aquelas que vem e se vão com uma enorme vontade de ficar..."



Palavras para quê? Sejam felizes e tenham sempre um sorriso à mão!!!

12 abril 2008

Olhem outro!

Só mesmo quem conhece bem os gatos!...

Olhem só o nível!...

Frase do dia:

Pior do que ser feia, é ter a mania que se é bonita!

10 abril 2008

O Principezinho

Meus amigos,

Não queria deixar de partilhar com vocês o meu capítulo preferido do meu livro preferido.
Das 1000 vezes que o li, pareceu-me sempre diferente, mais puro e mais enriquecedor.
Precisávamos de mais "principezinhos" neste mundo...





...Julgava-me muito rico por ter uma flor única no mundo e, afinal só tenho uma rosa vulgar...

Foi então que apareceu uma raposa .

- Olá, bom dia! disse a raposa.

- Olá, bom dia! - Respondeu delicadamente o principezinho...

-Anda brincar comigo - pediu o principezinho. Estou tão triste...

- Não posso ir brincar contigo - disse a raposa. - Ainda ninguém me cativou...

Andas à procura de galinhas? (diz a raposa)

Não... Ando à procura de amigos. O que é que "cativar" quer dizer?

... Quer dizer que se está ligado a alguém, que se criaram laços com alguém.

Laços?

Sim, laços - disse a raposa. - ...

Eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo e eu serei para ti, única no mundo...

(raposa) Tenho uma vida terrivelmente monótona...

Mas se tu me cativares, a minha vida fica cheia se Sol.

Estás a ver, ali adiante, aqueles campos de trigo? ... não me fazem lembrar de nada. É uma triste coisa! Mas os teus cabelos são da cor do ouro. Então quando eu estiver cativada por ti, vai ser maravilhoso! Como o trigo é dourado, há-de fazer-me lembrar de ti...

- Só conhecemos as coisas que cativamos - disse a raposa. - Os homens, agora já não tem tempo para conhecer nada. Compram as coisas feitas nos vendedores. Mas como não há vendedores de amigos, os homens já não tem amigos. Se queres um amigo, cativa-me!

E o que é preciso fazer? - Perguntou o principezinho.

- É preciso ter muita paciência. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim, assim em cima da relva. Eu olho para ti pelo canto do olho e tu não dizes nada . A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas todos os dias te podes sentar mais perto...

Se vieres sempre ás quatro horas, ás três já eu começo a ser feliz...

Foi assim que o principezinho cativou a raposa. E quando chegou a hora da despedida:

- Ai! - exclamou a raposa - Ai que me vou pôr a chorar...

... Então não ganhaste nada com isso!

- Ai isso é que ganhei! - disse a raposa. - Por causa da cor do trigo...

Depois acrescentou:

- Anda vai ver outra vez as rosas. Vais perceber que a tua é única no mundo.

O principezinho lá foi... - vocês não são nada disse-lhes ele. - Não há ninguém preso a vocês... - não se pode morrer por vocês...

... A minha rosa sozinha. vale mais do que vocês todas juntas, porque foi a ela que eu reguei, que eu abriguei... Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, ás vezes calar-se. Porque ela é a minha rosa.

E então voltou para ao pé da raposa e disse:

- Adeus...

- Adeus - disse a raposa. - vou-te contar o tal segredo. É muito simples:

Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos...

Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

- Os homens já se esqueceram desta verdade - disse a raposa. Mas tu não te deves esquecer dela.

Ficas responsável para todo o sempre por aquilo que está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa...

Antoine De Saint-Exupery "O Principezinho"

Sejam Felizes!




TABACARIA
(15-1-1928)


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.

Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.

Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.

O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.

Álvaro de Campos


Como estamos numa boa onda de educação e cultura, queria deixar-vos com este poema lindíssimo, que lido em pequenos trechos se identifica com um bocadinho de nós. Aproveitem para serem grandes e evoluídos...

A gente continua a ver-se na expo! LOL

07 abril 2008

Homenagem a Almada Negreiros


Hoje lembrei-me de Almada Negreiros. Se hoje fosse vivo faria 115 anos (sim nasceu a 7 de Abril de 1893). Foi um artista multidisciplinar, pintor, escritor, poeta, ensaísta, dramaturgo e romancista português ligado ao grupo modernista, onde pontificavam ainda Mário de Sá Carneiro, Fernando Pessoa, entre tantos outros carismáticos do século XX. Espectacular a entrevista que deu ao programa Zip Zip da RTP, na década de 60, e que ainda hoje pode ser vista ou revista na RTP Memória (não serve só para ver jogos do Benfica quando ganhava campeonatos - não resisti hehehehe). Deixou-nos a 14 de Junho de 1970, mas deixou-nos uma vasta obra para apreciar.

Hoje lembrei-me de um dos seus textos mais sublimes - Manifesto Anti-Dantas. Pesquisei no maravilhoso mundo da World Wide Web, e eis que encontrei na integra esse maravilhoso texto (podem vê-lo aqui). Deliciei-me mais uma vez a lê-lo.

Assim, deixo aqui um breve excerto que quero dedicar a TODAS e TODOS os Dantas que continuam a proliferar por aqui e a fazer "PIM-PAM-PUM".

"BASTA PUM BASTA!

UMA GERAÇÃO, QUE CONSENTE DEIXAR-SE REPRESENTAR POR UM DANTAS É UMA GERAÇÃO QUE NUNCA O FOI! É UM COIO D'INDIGENTES, D'INDIGNOS E DE CEGOS! É UMA RÊSMA DE CHARLATÃES E DE VENDIDOS, E SÓ PODE PARIR ABAIXO DE ZERO!

ABAIXO A GERAÇÃO!

MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!

UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS A CAVALO É UM BURRO IMPOTENTE!

UMA GERAÇÃO COM UM DANTAS À PROA É UMA CANÔA UNI SECO!

O DANTAS É UM CIGANO!

O DANTAS É MEIO CIGANO!

O DANTAS SABERÁ GRAMMÁTICA, SABERÁ SYNTAXE, SABERÁ MEDICINA, SABERÁ FAZER CEIAS P'RA CARDEAIS SABERÁ TUDO MENOS ESCREVER QUE É A ÚNICA COISA QUE ELLLE FAZ!

O DANTAS PESCA TANTO DE POESIA QUE ATÉ FAZ SONETOS COM LIGAS DE DUQUEZAS!

O DANTAS É UM HABILIDOSO!

O DANTAS VESTE-SE MAL!

O DANTAS USA CEROULAS DE MALHA!

O DANTAS ESPECÚLA E INÓCULA OS CONCUBINOS!

O DANTAS É DANTAS!

O DANTAS É JÚLIO!

MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!

O DANTAS FEZ UMA SORÔR MARIANNA QUE TANTO O PODIA SER COMO A SORÔR IGNEZ OU A IGNEZ DE CASTRO, OU A LEONOR TELLES, OU O MESTRE D'AVIZ, OU A DONA CONSTANÇA, OU A NAU CATHRINETA, OU A MARIA RAPAZ!

E O DANTAS TEVE CLÁQUE! E O DANTAS TEVE PALMAS! E O DANTAS AGRADECEU!

O DANTAS É UM CIGANÃO!

NÃO É PRECISO IR P'RÓ ROCIO P'RA SE SER UM PANTOMINEIRO, BASTA SER-SE PANTOMINEIRO!

NÃO É PRECISO DISFARÇAR-SE P'RA SE SER SALTEADOR, BASTA ESCREVER COMO DANTAS! BASTA NÃO TER ESCRÚPULOS NEM MORAES, NEM ARTÍSTICOS, NEM HUMANOS! BASTA ANDAR CO'AS MODAS, CO'AS POLÍTICAS E CO'AS OPINIÕES! BASTA USAR O TAL SORRISINHO, BASTA SER MUITO DELICADO E USAR CÔCO E OLHOS MEIGOS! BASTA SER JUDAS! BASTA SER DANTAS!

MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!

O DANTAS NASCEU PARA PROVAR QUE, NEM TODOS OS QUE ESCREVEM SABEM ESCREVER!

O DANTAS É UM AUTOMATO QUE DEITA PR'A FÓRA O QUE A GENTE JÁ SABE QUE VAE SAHIR... MAS É PRECISO DEITAR DINHEIRO!

O DANTAS É UM SONETO D'ELLE-PRÓPRIO!

O DANTAS EM GÉNIO NUNCA CHEGA A PÓLVORA SECCA E EM TALENTO É PIM-PAM-PUM!

O DANTAS NÚ É HORROROSO!

O DANTAS CHEIRA MAL DA BOCA!

MORRA O DANTAS, MORRA! PIM!

O DANTAS É O ESCARNEO DA CONSCIÊNCIA!

SE O DANTAS É PORTUGUEZ EU QUERO SER HESPANHOL!

O DANTAS É A VERGONHA DA INTELLECTUALIDADE PORTUGUEZA! O DANTAS É A META DA DECADÊNCIA MENTAL!

E AINDA HÁ QUEM NÃO CÓRE QUANDO DIZ ADMIRAR O DANTAS!

E AINDA HÁ QUEM LHE ESTENDA A MÃO!

E QUEM LHE LAVE A ROUPA!

E QUEM TENHA DÓ DO DANTAS!

E AINDA HÁ QUEM DUVIDE DE QUE O DANTAS NÃO VALE NADA, E QUE NÃO SABE NADA, E QUE NEM É INTELLIGENTE NEM DECENTE, NEM ZERO!

(...)"

A gente vê-se!

05 abril 2008

Cara Suja RIP

Cara Suja
3-5-2003/4-4-2008


Era uma vez um gato que de tanto olhar para o céu ficou com os olhos mais azuis que alguma tive o prazer de observar.

Era esperto e voraz, não dispensava os miminhos da minha avó, voltava quase sempre a casa, mas nunca para dormir dentro dela, apenas para descansar à porta. Era assim que ele gostava de viver.

Ainda me lembro do dia em que ele nasceu. Eram 3 gatinhos, 2 meninas tigradas e ele todo branquinho. Depois com o crescimento (como a mãe era siamesa) ele foi ganhando uma mancha aqui e outra ali de siamês. O temperamento era de siamês puro, muito altivo, independente, majestoso. Ah, e o olhos mais azuis que já vi em qualquer siamês.

Como o tipo tinha vida própria e só aparecia se lhe apetecesse, ontem reparámos que algo não estava bem. Foi apenas em 2 dias que ele não apareceu em casa. Gostava do seu território e do seu harém. O que ele tinha era de certo irreversível. Insuficiência hepática, FIV e FELV. Enquanto vou escrevendo isto...vou ficando com o meu coração todo partido, não consigo parar as lágrimas...só quem passou por isto me pode entender. Só houve uma solução...a eutanásia...e pronto. Antes pensava que não tinha coragem para assistir...Mas isso é de uma cobardia sem explicação. Fiquei com ele até ao seu último rom-rom...Sim...este bichinho morreu (felizmente sem qualquer dor) a ronronar. Ele já tinha imensa dificuldade em fazê-lo...mas tenho a certeza que ele soube que nós íamos estar ali com ele até ao fim. Foi das decisões mais dolorosas que tomei na vida. Decidir a vida e a morte de um ser vivo é algo que me transcende. A verdade é que ele morreu dignamente. Com o mínimo sofrimento possível. Foi só nisso que pensei. Ninguém merece sofrer até ao final. Já basta o que fazem com as pessoas. Acho que fui humana o suficiente....
Não acredito em Deus nem em nada do género. São esses fanatismos e essas crenças que geram guerras, ódios e sofrimentos de proporções bíblicas. Acredito que haja um lugar comum para todos, onde nos encontramos outra vez para darmos valor ao tempo que estivemos afastados. Lugar esse onde não existe sofrimento, mentiras, hipocrisia, maldade...espero mesmo que assim seja.

Vemos-nos por aí, Cara Suja...Já tenho saudades tuas, fofinho....um último Rom para ti, meu querido bichinho....


04 abril 2008

Quero Aprender

Quero ser sublime no que faço.

Quero dar algo de especial ao mundo.

Quero acreditar que há uma razão que dá sentido à vida, um princípio que me ajuda a atravessar os maus momentos e os bons também.

Quero crer que no mundo existe alguém tão só quanto eu.

Quero acreditar que vamos encontrar-nos e amar-nos e jamais voltaremos a conhecer a solidão.

In Um, Richard Bach

Hoje adequa-se um pouco a mim....